quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Do Livro Mulheres Incríveis: Dona Thereza



Dona Thereza

Nasci no Estado do Rio de Janeiro, em Paraty, mas eu pensava que era Paty do Alferes. Vim de lá com 5 anos, com meu pai e meus irmãos. Minha mãe ficou para cuidar da outra irmã, que ia ganhar neném. Cheguei de Maria fumaça na Leopoldina. Quando desci do trem, levei um susto com o apito do trem. Fiquei doente meses e minha irmã Idalina me levava numa portuguesa chamada Conceição. Ela me rezava e me enrolava nas folhas de bananeira... meu corpo encheu de bolhas d’água. Naquele tempo, diziam que era ventre virado, por causa do susto. Mandaram carta para minha mãe. Quando minha mãe chegou, eu estava quase boa e minha irmã já tinha ganhado um menino. Nos adaptamos ao lugar, ficava em Bangu, na serra de Bangu, perto do Pico da Pedra Branca. Meu pai, empregado do seu Manoel Januário, dono da roça. Vivíamos juntos, nos alimentávamos juntos, morávamos na casa de sapê e ele na casa grande. Saíamos todos juntos para roça e cada um, com sua ferramenta, para roçar e capinar. Descíamos para almoçar e descansávamos um pouco. Retornávamos para a roça. Lá ficávamos até as cinco horas, sempre cantando pelo caminho. Poucos estudavam, porque não tinha tempo e não tinha quase professor naquela época. O trabalho era de segunda a sábado. No sábado, era até o meio-dia. Depois da janta, dançávamos e cantarolávamos. Quem cantava muito era minha irmã junto com eles. Meu primo tocava sanfona. Música: “A minha caminha verde já chegou de Portugal, vamos todos minha gente, festejar o carnaval...”. Depois, vinha a embolada, quando cada um dizia um desafio. Um cálice de pinga de vez em quando pra quem bebia. Eu corria léguas. Nessa época, eu tinha quase 6 anos. Minha mãe ganhou minha irmã Clarice, num parto difícil. Tinha a parteira que pediu que chamassem o médico. Seu Januário saiu com dois cavalos: um para ele e outro para o médico. O médico fez o parto, a minha mãe gritou. Esse grito não saiu da minha cabeça. A menina estava atravessada, nasceu e viveu normal até sete meses. Com sete meses, ela caiu da tarimba. Ficou desacordada. Tarimba era uma espécie de cama,  feita de folha de bananeira e forrada com lençol de saco, o ABC (pano da Fábrica Bangu). Um certo dia, minha mãe foi cuidar dos porcos e pediu para eu olhar a menina, que estava dormindo. Eu continuei na mesa rabiscando um papel, pois desde essa época queria aprender a ler. Meu sobrinho apanhava para poder aprender. [...]


Leia essa e outras histórias no livro Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina

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