quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Do Livro Mulheres Incríveis 3ª ed.: Dona Aparecida







Dona Aparecida

Sou Maria Aparecida Carvalho Lima, tenho 68 anos. Minha vida política, na realidade, se iniciou através da Igreja Católica, com um grupo que se chamava e se chama Pastoral do Trabalhador, na Igreja Católica de São José Operário, em Realengo, debruçando em cima do evangelho e a necessidade de avançar e refletindo como Jesus viveu, só dentro de um lugar e orando. Mas vivendo durante sua passagem aqui na terra, foi percebendo tudo, foi um político, aliás, pra mim, Jesus Cristo foi o maior político que já existiu. É o meu guru naturalmente político. Percebi, então, que não bastava só rezar, que não seria só simplesmente dizer: “Ah, meu Deus!” e pedir. Não, eu estou aqui no mundo da ação. Ele me colocou no mundo com inteligência, com coração, com sentimento. Foi a partir daí que fundamos a Pastoral do Trabalhador, isso foi em 1970 em poucos. Eu estava com 33 anos na Pastoral do Trabalhador. Começamos a discutir as questões do trabalhador, da opressão que viviam os trabalhadores e, no nosso grupo, tinha uma trabalhadora – o nome dela não posso esquecer nunca – chamada Mercedes, que sofria opressão do patrão. Aos domingos, quando nós nos encontrávamos, éramos a força pra ela e nós dizíamos: “Não desista”, porque, naquela época, eles gostavam de demitir e se a pessoa pedisse as contas era melhor e a gente sempre incentivando “Não, não peça, porque é isso que ele quer.” Dali, nós fomos pegando livros, estudando e convidando pessoas para que ficássemos mais esclarecidos. Na realidade, na Pastoral do Trabalhador, este despertar da minha vida pro mundo político surgiu. Não estou falando do despertar político-partidário, estou falando pra vida e pro mundo político. No momento em que nós começávamos a discutir, aconteceu a greve em São Paulo, onde os trabalhadores ficavam dentro da igreja, justamente a Igreja Católica e nós daqui. Eu vendi muitos bônus para o sustento daqueles trabalhadores e para aguentarem aquele momento. Primeiro momento político forte que eu vivi com total consciência. Não só eu, um grupo de pessoas, inclusive este grupo da Pastoral do Trabalhador da Igreja São José Operário. Vendíamos bônus, como já disse anteriormente, para sustentar a greve durante aquele período. Foi dali que nós viemos a ter conhecimento da figura de Luiz Inácio Lula da Silva, que é o nosso atual Presidente, e foi aí que começou nossa luta. Surgiu a história de Lula lá em São Paulo e nós, no Rio, começávamos a nos reunir. Minha vida foi com Carlos, com Paulo e com Antônio, porque nós nos reuníamos na casa uns dos outros e, depois, na minha casa, para discutirmos este Partido dos Trabalhadores. Essa discussão já estava forte, muito forte lá em São Paulo. Nós, aqui, tínhamos que filiar pessoas para que esse Partido passasse a existir.
Andávamos de casa em casa, filiando pessoas. Onde nos reuníamos muito era nas igrejas. A Igreja São Lourenço, a Igreja São José Operário, outra Igreja. Nosso quartel-general eram as igrejas católicas. Eu tenho que dizer sempre que a minha consciência política veio da Igreja. Naquela ocasião, era muito forte a atuação das igrejas católicas e do movimento de bairros. Então, foi dali que veio o que não morreu até hoje. Eu fui uma das pessoas que filiei pessoas para que esse Partido fosse fundado e criado. Dali, então, veio a primeira campanha que foi em Benedita da Silva, Adilson Pires. Foram nessas pessoas que votamos naquela época. Eu morava em Realengo, pedia pra que as pessoas se reunissem e discutissem política e partido e a diferença que, até então, nós ainda não tínhamos percepção da profundidade do que estávamos fazendo e participando, tínhamos certeza da necessidade. Meu sogro era de outro partido que, naquele momento, era forte, mas ele não discutia a fundação desse partido que despontava e nós começamos a discutir. A diferença do Partido dos Trabalhadores e como ele fora fundado e, daí, nós íamos muito a São Paulo. Até então, o Partido era só dos Trabalhadores, como se trabalhador fosse apenas o operário e nós, naquele momento, não considerávamos que médico era trabalhador, que engenheiro era um trabalhador, advogado e tantos outros. Era uma briga forte, até que nós fomos amadurecendo e entendendo que todos são trabalhadores e que devíamos trazer essas pessoas para a discussão e para discutir dentro do Partido naquele momento. [...]


Leia essa e outras histórias no livro Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina



Nenhum comentário:

Receita da felicidade

RECEITA DA FELICIDADE Ingredientes: 100 gramas de alegria 150 gramas de amor puro 500 gramas de bom humor 200 gramas de energia ...