Elídia
de Paula Lima
Meu
nome é Elídia de Paula Lima, tenho 52 anos. Meu filho falou pra mim que ia
acontecer o curso de extensão Gênero e Etnia História das Mulheres Negras da
Escravidão à Contemporaneidade, ele me deu a maior força. Ele falou: “Mãe, vai.
Tudo que você quer. Você precisa interagir com pessoas que tenham bagagem nesse
assunto”.
Aí, quando eu cheguei no curso, quando
eu olhei Elaine, eu falei: “Jesus, isso é tudo o que eu quero pra minha vida”. O que eu esperava era
abrir meu horizonte, porque eu
estava assim meio travada em termos de como ministrar uma aula. E eu fui pegando as coisas que você passava ali e fui absorvendo pra mim, por que é o que eu
quero. Eu queria fazer Serviço
Social. Eu fazendo História, vou ter contato com pessoas e é uma coisa que eu sempre gostei, de ensinar. Agora aprendendo, né?!... Olha, eu fiquei tão assim,
deslumbrada, que cheguei em casa contando
o filme, contando tudo que aconteceu, a professora, a roupa da professora, tudo, entendeu, igual criança. Meu filho ficou tão feliz... Falou: “Valeu a
pena, né, mãe?!”. Tá valendo.
Pra mim, foi como uma homenagem que eu
sempre quis fazer e não pude. A gente vê assim, mulheres na mídia, e eu falei: “Meu Deus, como que um dia alguém vai saber
da história da minha mãe, uma mulher guerreira, que criou esses filhos todos, lutou
muito mesmo pra chegar até aqui, com essa idade, 98 anos?” Então, “Meu
Deus”, eu falei, “é tudo”. Liguei pro meu sobrinho,
falava pra um, falava pra outro, fiquei
igual uma criança. Minha mãe ficou muito feliz, ela falou: “Minha filha, mas eu nunca estudei.” “Mamãe, mas você é importante,
você tem uma história de vida, que não é na sala de aula que você vai ter como contar.
Não é a história dos outros, não. É a história da tua vida. Você nunca foi a
uma sala de aula, mas você colocou todas nós na escola. Hoje, o que nós sabemos
é porque você nos introduziu na sociedade através do ensino. Você não aprendeu,
mas ensinou o caminho.” A mulher negra tem uma importância tremenda na sociedade.
Há muitos, nós achávamos que não tínhamos valor, Porque porque incutiram isso em nós. Nós não tínhamos valor
nenhum. Quando criança, as crianças
falavam: “Quando crescer quero ser professora.” Eu dizia assim: “Eu quero ser
doméstica”, porque era esse o horizonte que eu tinha. Hoje, quando eu vejo uma
mulher negra lá no Planalto, ou uma repórter, ou uma professora fazendo mestrado,
doutorado, olha, eu me realizo. Mas eu não quero me realizar só nos outros,
porque eu também tenho potencial pra chegar lá. Então, é muito importante,
porque faz a gente saber que a gente
também tem condições de chegar onde a outra chegou. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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