quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Do livro Mulheres Incríveis: Elidia de Paula Lima



Elídia de Paula Lima

Meu nome é Elídia de Paula Lima, tenho 52 anos. Meu filho falou pra mim que ia acontecer o curso de extensão Gênero e Etnia História das Mulheres Negras da Escravidão à Contemporaneidade, ele me deu a maior força. Ele falou: “Mãe, vai. Tudo que você quer. Você precisa interagir com pessoas que tenham bagagem nesse assunto”. Aí, quando eu cheguei no curso, quando eu olhei Elaine, eu falei: “Jesus, isso é tudo o que eu quero pra minha vida”. O que eu esperava era abrir meu horizonte, porque eu estava assim meio travada em termos de como ministrar uma aula. E eu fui pegando as coisas que você passava ali e fui absorvendo pra mim, por que é o que eu quero. Eu queria fazer Serviço Social. Eu fazendo História, vou ter contato com pessoas e é uma coisa que eu sempre gostei, de ensinar. Agora aprendendo, né?!... Olha, eu fiquei tão assim, deslumbrada, que cheguei em casa contando o filme, contando tudo que aconteceu, a professora, a roupa da professora, tudo, entendeu, igual criança. Meu filho ficou tão feliz... Falou: “Valeu a pena, né, mãe?!”. Tá valendo.
Pra mim, foi como uma homenagem que eu sempre quis fazer e não pude. A gente vê assim, mulheres na mídia, e eu falei: “Meu Deus, como que um dia alguém vai saber da história da minha mãe, uma mulher guerreira, que criou esses filhos todos, lutou muito mesmo pra chegar até aqui, com essa idade, 98 anos?” Então, “Meu Deus”, eu falei, “é tudo”. Liguei pro meu sobrinho,
falava pra um, falava pra outro, fiquei igual uma criança. Minha mãe ficou muito feliz, ela falou: “Minha filha, mas eu nunca estudei.” “Mamãe, mas você é importante, você tem uma história de vida, que não é na sala de aula que você vai ter como contar. Não é a história dos outros, não. É a história da tua vida. Você nunca foi a uma sala de aula, mas você colocou todas nós na escola. Hoje, o que nós sabemos é porque você nos introduziu na sociedade através do ensino. Você não aprendeu, mas ensinou o caminho.” A mulher negra tem uma importância tremenda na sociedade. Há muitos, nós achávamos que não tínhamos valor, Porque porque incutiram isso em nós. Nós não tínhamos valor nenhum. Quando criança, as crianças falavam: “Quando crescer quero ser professora.” Eu dizia assim: “Eu quero ser doméstica”, porque era esse o horizonte que eu tinha. Hoje, quando eu vejo uma mulher negra lá no Planalto, ou uma repórter, ou uma professora fazendo mestrado, doutorado, olha, eu me realizo. Mas eu não quero me realizar só nos outros, porque eu também tenho potencial pra chegar lá. Então, é muito importante, porque faz a gente saber que a gente também tem condições de chegar onde a outra chegou. [...]


Leia essa e outras histórias no livro Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina

Nenhum comentário:

Receita da felicidade

RECEITA DA FELICIDADE Ingredientes: 100 gramas de alegria 150 gramas de amor puro 500 gramas de bom humor 200 gramas de energia ...