Dona
Thereza
Nasci
no Estado do Rio de Janeiro, em Paraty, mas eu pensava que era Paty do Alferes.
Vim de lá com 5 anos, com meu pai e meus irmãos. Minha mãe ficou para cuidar da
outra irmã, que ia ganhar neném. Cheguei de Maria fumaça na Leopoldina. Quando
desci do trem, levei um susto com o apito do trem. Fiquei doente meses e minha
irmã Idalina me levava numa portuguesa chamada Conceição. Ela me rezava e me
enrolava nas folhas de bananeira... meu corpo encheu de bolhas d’água. Naquele
tempo, diziam que era ventre virado, por causa do susto. Mandaram carta para
minha mãe. Quando minha mãe chegou, eu estava quase boa e minha irmã já tinha
ganhado um menino. Nos adaptamos
ao lugar, ficava em Bangu, na serra de Bangu, perto do Pico da Pedra Branca. Meu pai, empregado do seu
Manoel Januário, dono da roça. Vivíamos
juntos, nos alimentávamos juntos, morávamos na casa de sapê e ele na casa
grande. Saíamos todos juntos para roça e cada um, com sua ferramenta, para
roçar e capinar. Descíamos para almoçar e descansávamos um pouco. Retornávamos
para a roça. Lá ficávamos até as cinco horas, sempre cantando pelo caminho. Poucos
estudavam, porque não tinha tempo e não tinha quase professor naquela época. O
trabalho era de segunda a sábado. No
sábado, era até o meio-dia. Depois da janta, dançávamos e cantarolávamos. Quem
cantava muito era minha irmã junto com eles. Meu primo tocava sanfona. Música: “A
minha caminha verde já chegou de Portugal, vamos todos minha gente, festejar o
carnaval...”. Depois, vinha a embolada, quando cada um dizia um desafio. Um
cálice de pinga de vez em quando pra quem bebia. Eu corria léguas. Nessa época,
eu tinha quase 6 anos. Minha mãe ganhou minha irmã Clarice, num parto
difícil. Tinha a parteira que pediu que chamassem o médico. Seu Januário saiu
com dois cavalos: um para ele e outro para o médico. O médico fez o parto, a
minha mãe gritou. Esse grito não saiu da minha cabeça. A menina estava
atravessada, nasceu e viveu normal até sete meses. Com sete meses, ela caiu da tarimba.
Ficou desacordada. Tarimba era uma
espécie de cama, feita de folha de
bananeira e forrada com lençol de saco, o ABC (pano da Fábrica Bangu). Um certo dia, minha mãe foi cuidar dos
porcos e pediu para eu olhar a menina, que estava dormindo. Eu continuei na mesa
rabiscando um papel, pois desde essa época queria aprender a ler. Meu sobrinho
apanhava para poder aprender. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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