Dona
Aparecida
Sou
Maria Aparecida Carvalho Lima, tenho 68 anos. Minha vida política, na realidade,
se iniciou através da Igreja Católica, com um grupo que se chamava e se chama
Pastoral do Trabalhador, na Igreja Católica de São José Operário, em Realengo,
debruçando em cima do evangelho e a necessidade de avançar e refletindo como
Jesus viveu, só dentro de um lugar e orando.
Mas vivendo durante sua passagem aqui na terra, foi percebendo tudo, foi um político, aliás, pra mim, Jesus Cristo foi o maior político que já existiu. É
o meu guru naturalmente político.
Percebi, então, que não bastava só rezar, que não seria só simplesmente dizer: “Ah, meu Deus!”
e pedir. Não, eu estou aqui no mundo
da ação. Ele me colocou no mundo com inteligência, com coração, com sentimento. Foi a partir daí que fundamos a Pastoral do Trabalhador, isso foi em 1970 em poucos. Eu estava com 33 anos na Pastoral do
Trabalhador. Começamos a discutir as questões
do trabalhador, da opressão que viviam os trabalhadores e, no nosso grupo, tinha uma trabalhadora – o nome dela não posso esquecer nunca – chamada
Mercedes, que sofria opressão do patrão.
Aos domingos, quando nós nos encontrávamos, éramos a força pra ela e nós dizíamos: “Não desista”, porque, naquela
época, eles gostavam de demitir e se
a pessoa pedisse as contas era melhor e a gente sempre incentivando “Não, não
peça, porque é isso que ele quer.” Dali, nós fomos pegando livros, estudando e
convidando pessoas para que ficássemos mais esclarecidos. Na realidade, na Pastoral
do Trabalhador, este despertar da minha vida pro mundo político surgiu. Não
estou falando do despertar político-partidário, estou falando pra vida e pro
mundo político. No momento em que nós começávamos a discutir, aconteceu a greve em São Paulo, onde os
trabalhadores ficavam dentro da igreja, justamente a Igreja Católica e nós
daqui. Eu vendi muitos bônus para o sustento daqueles trabalhadores e para aguentarem
aquele momento. Primeiro momento político forte que eu vivi com total
consciência. Não só eu, um grupo de pessoas, inclusive este grupo da Pastoral do Trabalhador da Igreja São José
Operário. Vendíamos bônus, como já
disse anteriormente, para sustentar a greve durante aquele período. Foi dali
que nós viemos a ter conhecimento da figura de Luiz Inácio Lula da Silva, que é o nosso atual Presidente, e foi aí
que começou nossa luta. Surgiu a história
de Lula lá em São Paulo e nós, no Rio,
começávamos a nos reunir. Minha vida foi com Carlos, com Paulo e com Antônio, porque
nós nos reuníamos na casa uns dos outros e, depois, na minha casa, para
discutirmos este Partido dos
Trabalhadores. Essa discussão já estava forte, muito forte lá em São Paulo.
Nós, aqui, tínhamos que filiar pessoas para que esse Partido passasse a
existir.
Andávamos de casa em casa, filiando
pessoas. Onde nos reuníamos muito era nas igrejas. A Igreja São Lourenço, a Igreja
São José Operário, outra Igreja. Nosso quartel-general eram as
igrejas católicas. Eu tenho que dizer sempre que a minha
consciência política veio da Igreja.
Naquela ocasião, era muito forte a
atuação das igrejas católicas e do
movimento de bairros. Então, foi dali que veio o que não morreu até hoje.
Eu fui uma das pessoas que filiei pessoas para que esse Partido fosse fundado e
criado. Dali, então, veio a primeira campanha que foi em Benedita da Silva, Adilson Pires. Foram nessas pessoas que votamos
naquela época. Eu morava em Realengo, pedia pra que as pessoas se reunissem e
discutissem política e partido e a diferença que, até então, nós ainda não
tínhamos percepção da profundidade do que estávamos fazendo e participando,
tínhamos certeza da necessidade. Meu sogro era de outro partido que, naquele momento,
era forte, mas ele não discutia a fundação desse partido que despontava e nós
começamos a discutir. A diferença do Partido
dos Trabalhadores e como ele fora fundado e, daí, nós íamos muito a São
Paulo. Até então, o Partido era só dos Trabalhadores, como se trabalhador fosse
apenas o operário e nós, naquele momento, não considerávamos que médico era
trabalhador, que engenheiro era um trabalhador, advogado e tantos outros. Era
uma briga forte, até que nós fomos amadurecendo e entendendo que todos são trabalhadores
e que devíamos trazer essas pessoas para a discussão e para discutir dentro do Partido
naquele momento. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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