Luiza
de Fátima Dantas
Não
fui da direção do MAB, mas conheço a história. O movimento de bairros de Nova Iguaçu
era muito intenso e, aí, no MAB, as pessoas tinham a responsabilidade de
organizar a associação de moradores. Casei em 1975 e gostaria de participar. Já
em 1978 e 1979, comecei a me dedicar muito. Em 1980, estava grávida e tive que
lagar o movimento, porque o DOPS era muito forte e o primeiro contato com a
repressão foi nesse período. Na organização do conjunto, éramos todos moradores
do mesmo conjunto, meu amigo disse que teria que fugir porque havia agente do
DOPS atrás da gente. Eu não entendi nada, mas foi por causa dos panfletos da
organização da associação de moradores. Nasceu minha filha e me afastei. Em 1983,
tinha 23 anos e ainda era forte a repressão, quando me acusaram de ser da PPL. Era
uma organização de extrema esquerda comunista e junto com o PC do B, tentava
fazer uma luta armada. Nunca dei importância, mas eu não era da PPL. Comecei a
gostar muito disso, não era filiada a partido nenhum. O meu amigo que descobriu
sobre o DOPS e eu organizamos o PC do B em Nova Iguaçu. Começou a sair do
bipartidarismo e ele me colocou como tesoureira. Aqui em Nova Iguaçu, a
organização de Bairros e da Igreja era muito forte, mas tinha receio por achar
que me colocaram em risco. Fiquei no PC
do B até em 1984, entrei no PT, em 1988 e, neste mesmo ano, no trabalho de mata-mosquitos.
Começou a aparecer mais a organização dos trabalhadores do que a de bairros
dentro do PT. A organização de
mulheres era muito forte e as mulheres viviam uma discriminação muito grande. O
Sindicalismo ficou muito claro. A
origem do Sindicato com uma cara muito masculina e a cara das mulheres era
muito forte no movimento estudantil. Ainda hoje, há uma discriminação das
mulheres muito grande. Comigo não, por conta da minha formação, mas vejo todas
as companheiras. As mulheres são assediadas
moralmente. A participação das mulheres dentro dos sindicatos ainda não é tão
intensa e expressiva como precisa ser. O
SEPE, por exemplo, é um sindicato formado em sua maioria por mulheres,
avançou muito, mas ainda não possui o peso que poderia e deveria ter. O de enfermeiras
também é constituído em grande parte pela ala feminina, mas, de uma forma
geral, os sindicatos não abrangem as questões das mulheres. Na CUT, surge a Comissão da Mulher Trabalhadora. Discute a cota para as mulheres,
porém o processo é lento. Ainda hoje, a discussão do aborto é tal como antes; não avançou. Ainda existem agressões físicas,
morais, embora sejam veladas. O meu
estilo pessoal não é de levar desaforo para casa, mas existe comigo uma coisa
estabelecida. Tenho duas filhas e uma
neta, a política das mulheres tem que ser feita todo dia, em todo lugar e em
todas as esferas. E mesmo aqui no Sindicato, às vezes escondem coisas de
mim, porque não vou deixar barato. Na
Comissão da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, as mulheres cresceram muito e
ainda precisam crescer mais. Tem que ser a mulher maravilha para ser militante
sindical, tem que ter muita estrutura. A militância passa a ser quase que por
vinte e quatro horas, passa a ser tripla jornada. Em 1975, foi o ano Internacional da Mulher. Nessa época, com vinte
e dois anos, ainda não era essa luta. Quando comecei a me envolver no movimento
de bairros, nessa ocasião, muitas mulheres participavam dessa organização (MAB). As mulheres de Nova Iguaçu
fizeram o fechamento da Dutra. Em 1985 e
1986, surgiu a dengue no Rio e
as mulheres de Nova Iguaçu, através do MAB,
lutaram contra a doença e também para saber o que era dengue. E mesmo sem
saber, em 1970, eu já lutava pela
saúde e por moradia. Na década de 1980,
entrei para a luta sindical. As mulheres saem do lar para a luta sindical e a luta
sindical foi organizada para homens. Na
direção do Partido, eu era a
única mulher a começar a luta por disputa.
A mulher no poder passa por todo o tipo de pressão. Construí um perfil e
não tive muito problema, mas as mulheres
que trouxe comigo sofreram muito. O sindicalismo
parece que está em retrocesso. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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