Mãe
Arlene de Katende
Em 1975, eu estava recém-iniciada. Tinha apenas 3 anos de iniciação e pensava em mudanças
para nossa cultura. Porque, quando
eu entrei pro Candomblé, tinha vindo
da Igreja Católica. Cheguei a ser noviça, ia ser freira e saí da Igreja
Católica não por vontade, mas, até acredito, por uma escolha dos meus Orixás, dos meus inkices, por essa nova realidade com amor e carinho. Estou dentro
dela há praticamente trinta e seis anos. Vou fazer os trinta e seis anos de
iniciação no dia vinte e sete de outubro. Sinto-me muito feliz por estar contribuindo
para o crescimento e evolução da minha cultura.
Sinto-me em dívida com minha religião, por não ter começado antes, e por ter
ficado tantos anos desenvolvendo essa ideia. Antes de 1975, em 1972, quando
iniciei, eu já pensava em fazer alguma coisa social e politicamente falando.
Via as dificuldades, quando via a discriminação, porque sempre existiu a
desigualdade. Todo esse comprometimento que temos com a nossa causa, a guerra e
a luta, eu devia ter começado antes, mas por ter me casado cedo, ter tido
filhos, acabei me envolvendo mais com a família e deixando de lado esta
vontade. Só agora, em 2002, com a fundação da minha ONG, o CISIN e do Afoxé Maxambomba, eu retornei às atividades
de luta, militância, em prol da minha cultura. Não só por ser mulher, mas pelo
gênero, tive muitas dificuldades. Infelizmente, é uma luta muito grande,
encontrei muito preconceito, até por eu ser branca e estar militando numa cultura Afro. Uma cultura só de negros,
que eles consideram ser só deles, que na realidade eu sempre falo, eu fui uma
escolhida pelo meu inkice e, com certeza, quando ele me escolheu, ele sabia o
que estava fazendo. Minha Mãe de Santo,
Mãe Eleci, que, em 1972, ajudou na minha iniciação, e na época, eu fui iniciada
por mãe Dileui, comentou assim: “Dileui, esta menina vai levantar esta bandeira
e ninguém acreditou, porque esta menina vai levantar o nome da Gomeia”, e hoje
eu tenho certeza disso, porque eu bato pé e enfrento todas as lutas. Estou aí,
nas guerras. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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