Convido a todos para o lançamento do meu primeiro livro infantil "As coisas simples da vida", neste livro falo sobre darmos valores as pequenas coisas da vida, momentos importantes, já que vivemos num mundo tão competitivo e capitalista, às vezes esquecemos do que realmente importa, um bom dia, uma boa conversa é um simples gesto de fazer um café ou de quando fazem pra nós, a conversa, essas coisas simples e de grande significado em nossas vidas, principalmente para as crianças. #ascoisassimplesdavida
A ideia de ouvir mulheres veio de observar a luta da minha mãe para criar cinco filhos sendo doméstica, quando eu era criança, pensava em como minha mãe conseguia fazer tudo aquilo, e depois que cresci, fui entender o universo das mulheres e principalmente das mulheres negras, pois fui embalada por mulheres negras, ouço o assovio de minha avó natalina até hoje, ela já se foi, mas me marcou e sigo seus ensinamentos até hoje e foi assim que nasceu esse projeto.
sábado, 26 de novembro de 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Lançamento do Livro Mulheres Incríveis 3ª ed., em São Paulo, no dia 11 de novembro, no Aparelha Luzia. Borá Lá!
Lançamento do Livro Mulheres Incríveis 3ª ed., no dia 11 de novembro, às 19h, no Aparelha Luzia. Contamos com a presença de todos.
sábado, 29 de outubro de 2016
Lançamento do Livro Mulheres Incríveis 3ª ed., dia 18 de novembro, na livraria Leitura, no Park Shopping, às 18h. Esperamos por vocês.
Convido a todos para comparecerem ao Lançamento do Livro MULHERES INCRÍVEIS 3ª ed., pela Editora Nandyala, autora: ELAINE MARCELINA, será no dia 18 de novembro, às 18h, na livraria Leitura, no Park Shopping, em Campo Grande, Rio de Janeiro. Sua presença é muito importante.
O livro traz a narrativa de doze Mulheres: DONA THEREZA, LUIZA DE FÁTIMA DANTAS, ZEZÉ MOTTA, MÃE BEATA DE IEMANJÁ, MÃE ARLENE DE KATENDE, DONA ROSA DIAS (IN MEMÓRIAN), DONA APARECIDA, VANDA FERREIRA, CLÉLIA DA PAIXÃO (IN MEMÓRIAN), ELIDIA DE PAULA LIMA, EDNEIA MARCELINO GOMES E MARIA DO CARMO (IN MEMÓRIAN). E ainda tem poesias, contos, e prosas sobre muitas mulheres, vale a pena conferir.
Mulheres Incríveis 3ª ed.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Aya: Caravana da Ousadia Literária, 4ª ed., amanhã, no Passeio Shopping, tendo na Programação o lançamento do Livro Mulheres Incríveis.
O
Projeto AYA: CARAVANA DA OUSADIA LITERÁRIA, idealizado pela escritora Elaine
Marcelina, visa promover um evento cultural e literário mensalmente no Passeio
Shopping, envolvendo literatura, música, teatro e muito mais, um verdadeiro
encontro das artes na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Desta forma iremos agregar
em um espaço comercial um pouco da cultura latente neste espaço da cidade, que
é tão visceral e plural, e sobretudo apresentar os autores e artistas moradores
da região e teremos ainda escritores convidados de toda parte da Cidade, pois
não existe um lugar para o escritor, existe em qualquer lugar uma fonte e
objeto de inspiração para um escritor e são dessas inesgotáveis fontes e formas
de fazer arte e literatura que nos move até este projeto.
Amanhã
será a 4ª edição do Projeto Aya: Caravana da Ousadia Literária, que ocorre toda
última quinta-feira do mês, no Passeio Shopping, localizado em Campo Grande, na
Zona Oeste do Rio de Janeiro. Teremos a presença dos seguintes artistas e
escritores: Ana Cruz, Dalberto Gomes, Elaine Marcelina Silmo Prata, Sérgio
Alves, Bruno Black, Márcio Rufino, Maria Inês, Banda DSD, WG e Mulheres em Ação, e
o PQNO Sensimila!
Teremos na edição de amanhã o lançamento do Livro Mulheres Incríveis 3ª ed., Editora Nadyala, Elaine Marcelina, com um momento para autógrafos.
Nesta
terceira edição de Mulheres incríveis, ampliada e revisada, Elaine Marcelina,
historiadora e escritora, registra o seu processo de andanças e de escuta,
reunindo vozes e vivências de mulheres negras brasileiras. Ao longo dessa caminhada,
a autora conta e se encanta com as várias narrativas recolhidas, apresentadas
de forma tão visceral que conduzem o(a) leitor(a) ao universo da mulher negra
na sociedade, em sua forma própria de conduzir a vida e de lançar seu olhar
para o mundo.
Crônicas da Marcelina: Nossa Infância
Esta foto me remete aos meus 6 ou 7 anos de idade, estamos eu e minha irmã Luciene, no portão da Fazenda do Viegas, não me lembro bem de quem tirou a foto, mas sempre que saiamos de casa era uma grande aventura, pois não saiamos muito, a Fazenda ficava a uns cem metros de nossa casa, mas aquele portão enorme de ferro, as árvores, dava uma enorme vontade de entrar, mas acho que nunca entramos, mas ir pelo menos na entrada e a imaginação de criança, pensar o que de fato tinha la dentro , era uma grande viagem. E hoje quando olho aquela foto penso em tantas coisas, saudades da infância, embora sofrida éramos unidos, minha avó Natalina era rígida, mas amorosa, as histórias, eu pensava muito em ir morar com minha mãe, essa era minha tristeza maior, mas mesmo assim sinto saudades daquele tempo, da minha avó que não esta mais aqui e de tudo, as brincadeiras, sempre dentro de casa, brincávamos pouco com os vizinhos, mas a magia da infância, a escola, as colegas, lembro da Patricia e da Roberta, amigas da escola, eu estava sempre com a Patricia, porque ela sempre tinha lanche pra dividir, e eu nem sempre tinha, as vezes a Roberta queria sentar com a Patrícia e eu não gostava, mas hoje penso em tudo isso e tenho essa vontade de compartilhar esta fase de minha vida. Até as próximas lembranças.
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina:
QUANDO NOS PERDEMOS
Andei pensando que não queria me afastar de uma pessoa querida, e me veio à lembrança de como isso é inevitável, pois as pessoas passam por nossas vidas para abrilhantar nosso caminho, minimizar nossas dores, nos fazer crescer, diante de pessoas difíceis, aquelas que nos dão dor de cabeça, mas que a lição dada, nos faz crescer e continuar o caminho com maturidade e sabedoria, mas retorno as pessoas doces e amáveis que gostaríamos que nunca saíssem do nosso lado, porém a vida é assim e neste momento penso que elas permanecem o tempo exato em nossas vidas, porque já dizia o velho ditado “tudo que é demais, é sobra”. Devemos é viver intensamente os momentos felizes e prazerosos que estes seres nos permitem viver em suas companhias que, de certo era pra ser só uma passagem, quando falo de pessoas especiais penso em todas, desde filhos, amigos, amores e etc..
Todos aqueles que passaram e deixaram marcas, aquelas marcas de saudades, e quando nos perdemos nem sempre nos vemos novamente e só fica a lembrança de um tempo bom, que dificilmente acreditamos ser possível acabar, embora na vida tudo tenha inicio, meio e fim, exceto para os encontros espirituais que continuam por varias vidas, até que de fato tenhamos aprendido a lição necessária ao nosso espírito, que esta sempre precisando evoluir.
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina: As coisas simples da vida
Hoje pela manhã, ao fazer o café lembrei-me de minha mãe, ela me faz o café todos os dias, exceto aos fins de semana, quando ela esta em sua casa e de repente na hora em que eu estava colocando o café, lembrei de como o café dela é mais gostoso e pasme, ela não toma café, mas é o amor, o cuidado na ação e aí pensei no quanto passamos por cima destes momentos simples, porém de muitos significados na vida da gente, porque o café sem ela não é bom, o bom é quando ela faz o café, me da a xícara e começamos a conversar sobre a vida e eu falando dos sonhos que tive a noite e quando ela diz assim “você parece a sonhadora, sonha tanto”, eu digo, ta bom, mãe não te conto mais sonho nenhum, mas no dia seguinte estamos lá, nós duas no mesmo ritual, o café e a conversa pela manhã.
Pode parecer simples, mais não, é o nosso momento, pois saio para o trabalho, ela fica com a Anna, minha filha e depois todas nós só nos vemos no fim do dia.
Mãe esta lembrança me fez ver o quão importante são nossas manhã, obrigada por tudo e me desculpe pelas manhãs em que acordo meio ranzinza e por algum motivo naquele momento não percebo o tamanho do carinho, da gentileza e do amor que nutre por mim, que de certo é muito maior do que esta xícara de café.
Um grande abraço de sua filha que neste momento da vida resolveu ver a beleza nas coisas simples do cotidiano e a primeira em que descobri foi você neste gesto matinal. Até sempre!
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina: NOSSO AMOR: CRESCE A CADA DIA, DESDE QUE ESTAVA EM MEU VENTRE!
NOSSO AMOR: CRESCE A CADA DIA, DESDE QUE ESTAVA EM MEU VENTRE!
DESENHADO A CADA DIA, Nossa história tem sido desenhada por nós e os traços estão mais firmes a cada dia,
PINTADO A CADA DIA, Nas aquarelas da vida, a cada dia com um tom, fazendo misturas de tinta até chegar ao arco íris,
COSTURADO A CADA DIA, Feito colcha de retalho, e os tecidos são nossas experiências cotidianas, nossas aventuras, nossos sonhos,
ESCRITO A CADA DIA, Pelo lápis da vida, porém não tem borracha, escreveu tá lá, foi! E se não for bom tem que reescrever e se for bom basta transcrever, ir adiante fazendo histórias,
PROFESSADO, A CADA DIA, Nossa fé, nossa religião, foi mais um momento único vivido por nós este ano, isso fortaleceu a nós e ao nosso espírito, nos unindo cada dia mais, minha querida,
CONSTRUÍDO A CADA DIA, Pedra por pedra, tijolo por tijolo, neste momento estamos com a mão na massa, fazendo o alicerce de nosso amor, é a fase mais importante, é pra vida toda,
ENCENADO A CADA DIA, “A vida imita a arte”, é um bordão, embora de muitos significados. No tablado, no palco, na cena, no teatro, lá colocamos tudo pra fora, vários personagens, vários "eus", várias energias transitam por nós e depois de uma aula, de uma peça saímos mais leve, e aí querida, vamos estar mais prontas pra vida, e se a vida nos pregar uma peça saberá improvisar, não seremos pegas de surpresa, e nunca vamos saber quem imita quem, se a arte imita a vida ou se a vida imita a arte, o que teremos a nosso favor é que sempre seremos protagonistas de nossa própria história, jamais coadjuvantes, nada contra, mas nossa história de vida tem que ser escrita, encenada, dirigida, produzida e patrocinada por nós.
VIVIDA A CADA DIA, Por nós, aprendendo, errando, acertando, tropeçando, acertando de novo, crescendo ao longo da estrada, adquirindo experiência, maturidade, tudo no seu tempo, um tempo sublime, porque a cada segundo, a cada minuto, a cada amanhecer temos a chance de recomeçar, é só saber ouvir nossa voz interior, aquela que nos sussurra a cada dia e nem sempre somos capazes de ouvi-la, de atendê-la, de entendê-la, mas ela esta sempre lá nos guiando, ou sempre tentando nos mostrar um novo dia, um novo amanhecer, um novo entardecer, um novo anoitecer, enfim uma possibilidade de mudança constante, a qualquer momento, se assim quisermos, ou desejarmos e se não, continuamos seguindo os mesmos passos, desde que, estes não nos mutilem, não nos boicote, seremos então, sempre nós, vivendo sempre, axé!!!
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina:
UM
DEDO DE PROSA
Amanheci pensando em conversar com alguém, ter um dedo de
prosa, falar sobre as coisas que afligem a minha alma, meus dias. Pensei em
ligar para várias pessoas, depois desisti, uma vez um velho amigo, o Zé, me
disse “se quiser conversar, falar da sua vida converse sozinha, pois jamais
estará sozinha”, lembrei deste conselho, sentei e resolvi escrever, dialogar
comigo e colocar pro mundo, fica menos duro, porque não vão dizer faz assim,
assim assado. Esta prosa é sobre meu cotidiano, sobre a forma de conduzir a
vida, sei que não tem uma formula, seria bom que tivesse? Não sei. As respostas
serão sempre complexas, viver é complexo demais, o que tenho que fazer hoje, o
que vou fazer amanhã, mês que vem ano que vem e aí vem o seguinte pensamento,
que tipo de vida estou levando? São tantas as cobranças, sabe parece um
turbilhão de coisas e emoções, não sei se dou conta, mas o que é dar conta?
Pergunta sem resposta? Não. Dar conta é minimamente conseguir cumprir os
compromissos, ter saúde física, mental, social. Neste momento surgiu a idéia de
que quero sempre ter algo estabelecido, como se viver tivesse uma regra, uma
norma, mas infelizmente não tem. Esta prosa esta bem subjetiva, porque buscar
objetividade na vida é dificílimo. Imaginem se eu estivesse conversando com
alguém sobre isso, está tudo tão genérico, acho que não consigo escrever ou
falar de fato o que me aflige, são muitos os questionamentos, tudo esta sendo
remexido neste momento, vida espiritual, afetiva, familiar, profissional, parece
que não me conheço, estou tão surpresa com minhas atitudes, quero tanto mudar,
o rumo da vida, da prosa e me sinto andando em círculos ou melhor, inerte, não
saio do lugar e o que seria um dedo de prosa, virou um monte de fios soltos que
tenho que finalizar, fechar, selar um a um nem que para isso eu leve a
eternidade, gaste muito papel escrevendo, riscando, reescrevendo, não importa,
o que importa é saber que não esta bom e o diálogo é a melhor opção sempre.
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina
UM BRINDE A VIDA E A SANIDADE
Hoje
ao sair de casa e ver a luz do dia, me veio a ideia de escrever este texto, uma
vontade enorme de brindar a vida e a sanidade, me sinto sã neste momento e viva
claro, de ontem pra hoje fiquei no limite, na linha tênue entre loucura e
sanidade, fui ao extremo, sofri, chorei, gritei, esperneie, entrei em mim e não
queria nada mais do que minha casa e minha cama, uma verdadeira crise
emocional, fugi do telefone, do computador e de tudo, por vezes até de mim
mesma e agora ainda não estou 100%, mas estou tentando escrever por as mazelas
pra fora, difícil em poucas linhas, mas a tentativa é valida, sai de casa vim
buscar minha filha, vou leva-la ao teatro e vou fazer uma hora, talvez lá no
tablado, me vista de algum personagem que me tire desta fase,
desta inercia, outro processo é encarar os possíveis problemas que me trouxeram
até este abismo emocional, comecei e vou seguir um por um, tenho um grande
apoio a minha mãe, ela esta lutando comigo. Quero vencer, vencer esta fase,
vencer a doença, vencer a obesidade, vencer os medos e ser feliz, nem que seja
amanhecer e anoitecer bem e com saúde, isso já basta. Vou seguir tentando quero
destruir os “monstrinhos” que me perseguem nesta vida e dar risadas de todos
eles e se por ventura houver alguns de vidas passadas, peço perdão a eles e
licença para seguir em minha missão que não tem sido fácil. A todos vocês que
me acompanham um muito obrigado, se é um teste estou prestes a passar por ele,
se é realidade também esta acabando, se é medo estou te vencendo, se é sonho
estou acordando, se é surto estou encontrando a lucidez, se é do passado estou
vencendo no presente. Seja o que for, seja de onde vier estou no caminho certo,
encarar e vencer. Um abraço fraterno aos espíritos de luz que me acompanham e
em especial a você Lucio, por me ajudar a voltar e não fugir de minha missão
que ainda não se findou nesta vida. Até a eternidade.
Elaine
Marcelina
Crônicas da Marcelina: REPAGINANDO... REPENSANDO... REAVALIANDO
Os impasses da vida, as bolas divididas
me fazem ir para cima, lutar por meus direitos, tentar ir driblando a bola até
o gol, mesmo que a bola bata na trave, porque acho importante não parar no meio
do campo, só porque o time esta perdendo, temos nosso potencial e até que o
juiz apite o fim do jogo, o fim da prorrogação ainda temos tempo.
Então foi assim desta forma que aprendi a levar a minha vida, mas em alguns
momentos algumas atitudes nossas ou de outros conosco, nos faz parar para
pensar se estamos certos, se sabemos lidar com os nãos da vida, ou será que a
vida para nós tem que ser feitas de sim?
Nos últimos dias venho passando por
esta reflexão, até que ponto tenho
que ir pra cima, Cavar o pênalti, Bater o pênalti fazer o gol e sair vencedora?
Porque posso somente jogar em minha posição e as situações serão criadas em
equipe, no coletivo, pois não posso pensar que levo o time nas costas, é
loucura! Um time tem onze jogadores e na vida tem muitos jogadores, entretanto
em determinadas partidas jogamos com alguns poucos deles em outras com mais,
porém o que emparelha a vida com uma partida é que não acertamos sozinhos e
também não perdemos sozinhos. Nós temos que ter fé no outro, acreditar que ela
vai te passar a bola e você fará o gol e você também passará a bola para quem
estiver em melhor posição. Diante deste panorama vamos as reflexões, as vezes
nos sentimos depreciados, postos para trás em diversas situações desde a vez em
uma fila, até a atenção de um ente querido ou na sociedade de uma forma geral
por gênero, por etnia, por classe social e etc.
Hoje comecei a pensar que nem sempre
temos a razão em nossas reclamações, por vezes o atendente da loja realmente
não te viu ou outra situação qualquer, que não o que você tem como certo, outra
grande questão é quando alguém da família ou um amigo te diz não e aquilo virá
um nó, mas para o outro foi só uma decisão simples, pelo ponto de vista dele, e
nós algumas vezes fazemos disto um tragédia, ainda tem aquelas visitas deguarda
compartilhada que sempre fogem ao nosso controle, e isso tem me feito pensar
muito, primeiro damos muito valor as regras, aos combinados, sabendo que a vida
é pulsante e tudo pode mudar, caso mude o mais importante não é a visita
daquela semana, naquela hora que vai contar no fim da vida, o que vai contar é
todo o resto, todo o comprometimento, todas as outras visitas que ocorreram sem
problemas e mais o carinho, o amor, a dedicação, a atenção.
Parar neste momento para reavaliar,
fazer um balanço é importante, até porque não posso reescrever minha história,
mas com toda certeza posso repensar meus valores, minhas ideias, meus “sims”,
meus “nãos”, minha vida, de forma a viver mas leve, sem tanto rigor com os
horários, com as datas, com as pessoas, com os amigos, com a filha, com a
família, com tudo e todos a minha volta, até porque não detemos o poder de
conduzir tudo, com uma varinha de condão. Precisamos viver, sabendo ou
aprendendo a conviver com o sim, com o não, com o talvez, com o até já, com o
até logo, com o até breve.
Elaine Marcelina
Crônicas da Marcelina: O REGINALDO DERRETEU!
O REGINALDO DERRETEU!
Hoje
quando cheguei, minha mãe veio me falando toda feliz, “filha não sabe o que
aconteceu!” Diz mãe. Ela continuou “sabe o “Reginaldo”? Sei, o que tem?
Pergunte a Anna, ele derreteu, acho que ele já estava aborrecido de tanto
agente falar mal dele. Me explica, como foi isso? E minha mãe começou a
explicação, “foi assim, hoje resolvi fazer um purê e como só tinha o
“Reginaldo”, coloquei ele mesmo e para minha surpresa ele derreteu, tinha que
vê a Anna me chamando, vó vem vê o “Reginaldo”, ele derreteu!”.
Acredito
que estejam curiosos para conhecer a identidade do “Reginaldo”, pois é vamos
lá. Certa vez comprei um queijo ralado, não lembro a marca, mas era muito ruim,
não derretia por nada e minha mãe que gosta muito de cozinhar, vivia debochando
do queijo e como ela só usa queijo ralado da marca Regina, um belo dia ela
batizou o queijo ruim de “Reginaldo” e ela dizia assim “não tem Regina não
gente, só tem o “Reginaldo” e foi
assim que nasceu o “Reginaldo””. Mas como tudo na vida tem uma solução, o
“Reginaldo” para surpresa de minha mãe, no fim da vida resolveu derreter,
fazendo assim a alegria e satisfação de todos e ao mesmo tempo, de certa forma,
cumprindo com a missão de sua vida. Então quem um dia comprar um “Reginaldo”
pode ter esperanças de que um dia, mesmo que no fim da vida ele vá cumprir com
suas obrigações e pode surpreender você e sua família.
Elaine Marcelina
Da série Narrando o dia a dia à miúde "A RELÍQUIA DA FAVELA", Por Elaine Marcelina
A
relíquia da favela
Aos quase 70 anos, ele ainda mora na
favela. Ele, que por um motivo torpe, virou celebridade. Ele, que no auge de
sua dor, ouviu tanta coisa dolorosa. Mas que agora ouve também coisas boas. Ele,
que neste momento da vida, acorda cedo e vai pra rua, porque trabalhou durante 41
anos ininterruptos, sem nunca ter tempo pra vadiar, e não consegue ficar em
casa parado. Ele, que nunca, nem em sonho, se envolvera com qualquer situação errada
ou criminosa, foi alvo de tiro em uma famosa incursão da polícia na favela,
aquele local que para ele e para os seus é somente seu local de moradia. Por
isso mesmo, sim, por morar na favela, foi que levou uma "bala
perdida", dessas que sempre acham alguém na frente, e desta vez este
alguém foi ele.
Correria e gritos. Susto, desespero e sangue
pra todo lado. A bala varou sua coxa e quase pega uma veia principal. O médico
disse que foi por pouco. Se tivesse acontecido, hoje ele seria finado. Mas pôde
voltar pra casa depois de muitos dias no hospital. Por conta dessa fatalidade
passou a ser chamado de "Relíquia da Favela", e ainda hoje, após
passado um bom tempo do ocorrido, ele ainda recebe visitas. Gente que vem
conhecer e conversar. Mas recebe também os curiosos e até algum jornalista, que
perguntam como foi o ocorrido daquela noite que todos querem esquecer. Ele diz
que dói lembrar. Mas a cada dia a dor dele vai se transformando em dor crônica
por ver o cenário da cidade na situação em que está, com tudo o que vem
ocorrendo no Rio de Janeiro, nas favelas, nos bairros. Sem distinção. O
sofrimento é de todos. Dos novatos e dos antigos que sempre viveram ali. Ele
sempre foi tão bem-quisto na favela que hoje leva até o apelido que ganhou da
comunidade. Ele é um sobrevivente. Ele tornou-se a Relíquia da Favela.
Mas já não vai mais sentar na mureta do
quintal, nas noites de lua clara, para tocar seu violão e cantar os sambas que a
mulher e os filhos pediam, e ficavam ouvindo e pedindo bis. Ele hoje é a
relíquia da favela porque voltou pra casa, e sobreviveu para contar mais uma
história de bala perdida.
Elaine Marcelina
Da Série Reflexão: "FELICIDADE*FÉ*AMOR*RESPEITO*PAZ"
FELICIDADE*FÉ*AMOR*RESPEITO*PAZ
Hoje
amanheci pensando na vida, no sentido de felicidade, de fé, da minha missão
nesta vida, de como lido com minha fé, como o outro lida com sua fé e como
respeita a fé alheia, a inquietação me trouxe a essas linhas, meio sem saber
por onde começar, pois a cabeça borbulhava de idéias e meus dedos não são tão
rápidos na digitação tal quais meus pensamentos. Aí iniciei o meu ritual
diário, acendi os incensos pela casa, para trazer boas energias, bons fluidos,
bons pensamentos. Estou sozinha em casa, é manhã de domingo e os vizinhos ainda
não acordaram, então o silêncio é convidativo também, liguei o computador,
remexi em alguns livros, coloquei o CD da Maria Rita, acho que os vizinhos não
aguentam mais, gosto muito e eis que vejo na contra capa do Cd a imagem de uma
pomba branca, com várias fitas coloridas a volta, com as seguintes palavras ao
redor “Felicidade. Fé. Amor. Respeito. Paz”, pensei eis o sinal de meu primeiro
texto do dia, e cá estou eu divagando entre meus pensamentos, minhas neuroses,
minha inquietação com a vida, com os conceitos que nos são impostos ao longo da
vida. Não sei se nesta ordem, mas vou arriscar seguir esta ordem: O que é
felicidade? O que é fé? O que é amor? O que é respeito? O que é paz? Felicidade
pra mim é estado de espírito, momentos de pequenas ou grandes alegrias, não há
uma cartilha que conste lá, para ser feliz siga as seguintes instruções e ao
final será feliz, ainda não vi receita, olha coloque esses ingredientes, mexa
desta forma, ponha no forno, espere uns quarenta minutos e depois está lá a
felicidade prontinha para você se servir e compartilhar com a família e os
seus, ainda não vi nem ouvi dizer, olha se você fizer essa simpatia após três
dias estará super feliz pelos próximos anos de sua vida, bom até aqui no auto de
meus quarenta e dois anos vividos, ainda não vi receita para a felicidade, até
porque para cada um ocorre de formas diferentes, por exemplo eu posso ficar
feliz de sentir o cheirinho de chuva, de observar a chuva chegando e ficar ali
na janela observando a chuva cair lá fora e isso ser uma grande felicidade para
mim, contemplar a natureza e suas facetas, mas pode perguntar a várias pessoas
o seu conceito de felicidade e te dirão coisas diversas. Vou ficando por aqui
se não podemos criar um grupo de pesquisa para a felicidade, um artigo, tese,
enfim é um assunto interessante. A fé, essa é outra questão que nem sei como e
por onde começar. Eu tenho fé na vida, no outro, em mim, na minha força, na
minha superação, em dias melhores. Mas definir a essência da fé, como ela
nasce, como ela morre, não sei explicar, sei que sinto, creio nas minhas
orações, nas sensações boas da vida, no olhar de paz do outro, nas lágrimas do
outro, tenho fé em santo protetor, em orixá, nas forças da natureza, são tantas
minhas demonstrações de fé, uma palavra tão pequena e com tanta força, tantos
significados, foi essa fé que me fez levantar hoje e seguir em frente, foi essa
fé que não me deixou ficar ali deitada de cara para a TV o dia todo. A fé nasce
com o individuo, não tem regras, ou você tem ou não tem, simples assim. O amor,
esse todos nós desejamos, sentimos, lutamos a favor e contra ao mesmo tempo. O
amor para alguns é piegas, mas amamos as plantas, os animais, os filhos, os
pais, a família, cada qual numa proporção, embora também não se tenha receita,
ele nasce numa simples amizade, nasce num sopro de vida, nasce nem sei como,
simplesmente nasce no peito de quem está vivo e tem alma nobre, que se
enternece pelo simples sorriso do outro, ou pela dor do outro, quem vibra com
alegrias, vitórias, conquistas, o amor está por ali rondando os seres, e quando
vemos estamos amando, apaixonados. O amor é objeto de todo poeta, de todo
escritor, de todo compositor, e ficamos tentando defini-lo, ainda que não
consigamos, porém só o fato dele permear nossos pensamentos já vale pela
complexidade que tem esse nobre sentimento. O respeito é o que todos nós
devemos ter desde que vamos crescendo, e nos entendendo por gente, respeitar o
outro, respeitar a si próprio. O respeito faz parte da convivência humana, mas
tem sido o fomentador de conflitos, pois é uma coisa tão simples e tão difícil
ao mesmo tempo. Acredito que viver sem respeito é a total prova de
desequilíbrio e de desalinhamento do ser humano, porque começa pelo desrespeito
ao espaço do outro, a fé do outro, a religião do outro,a cor do outro, a opção
sexual do outro, a roupa do outro e por aí vai, o mundo seria muito melhor se
fizéssemos esse exercício diariamente, o respeito. A paz, essa é desejada por
todos, almejada por todos os povos, o mundo clama por paz, mais e você o que
faz para ter paz? Existem umas coisas bem simples para termos paz, seguir seu
ritmo, respeitar seus princípios, seguir sua intuição, não entrar na energia
negativa do outro, tudo isso parece simples, só que infelizmente não é, e para
isso também não tem receita, somente viver da melhor forma, sem ferir a ética,
podemos conviver em paz nos ambientes.
Essas
são minhas indagações, constatações, reflexões e movimento na vida para que eu
consiga entender e vivenciar essas cinco palavras, cinco questões que nos
cercam diariamente em nossas vidas. Façam as suas.
Elaine
Marcelina
Rio,
28/02/2016
Crônicas da Marcelina: "ALIVIANDO A BAGAGEM"
ALIVIANDO
A BAGAGEM
Hoje
amanheci com uma questão na cabeça “por quê? Por quê? Por quê?” os porquês eram
referentes a várias situações, e como elas me afligem o como elas me afetam, o
como tudo a minha volta por vezes é enlouquecedor, e parei e lembrei-me da
frase de uma amiga “se isso não acontecer, você perderá o que?” Ufa! Foi o
inicio de minha sanidade de volta, aí mais adiante me lembrei do livro da Marta
Medeiros que estou lendo, “Simples assim”, neste livro de crônicas ela aborda
situações cotidianas, que bastam decidirmos o que nos cabe e pronto, parece
simples, bom nem tanto, mas quando comecei a fazer isso hoje, foi libertador,
me afastei da situação que de imediato me afligia e fui cuidar de minhas
coisas, remexer em minhas gavetas, ver minhas anotações, os meus prazos com a
Faculdade, notas de alunos, um projeto a escrever e puft! Como num passe de
mágicas aquilo que me tirou o norte cedo, agora nem esta dentre minhas
prioridades, aliás quais são minhas prioridades hoje, aos 42 anos? Muitas, saúde,
paz, criar a filha, organizar as finanças, lançar meus livros, a militância,
dar aulas, palestras, muitas, sendo que para atingir qualquer uma dessas
prioridades, preciso seguir mais leve, diminuir a bagagem, ou aliviar ao menos
e como fazer isso? A principio dano valor ao meu eu, me escutando, não dar
tanto valor as coisas externas, o que vem do outro, porque o que vem do outro é
dele, e só se torna seu se aceitar, se aquilo te afetar, então se criar um
campo de bloqueio para as picuinhas, para as mensagens que acha que é pra ti,
porque se a pessoa não vem diretamente e te diz, não é seu, e se ela vem
diretamente e diz a você, dependendo do que seja, descasque na hora e se for
bom pra ti coma, como uma fruta doce e suculenta, se não for bom pra ti, descarte
ao descascar, isso mesmo “simples assim”, até porque veja suas prioridades, e
nelas não constam espinhos, certo? E para que irá aceita-los, porque agindo
desta forma quem vai para terapia é o outro e não você e se você for para
terapia serão por suas prioridades e não pelas prioridades do outro, certo?
Isso tudo é uma forma de agir que encontrei hoje pela manhã, não é receita de
bolo, cada um terá sua forma de descascar seu abacaxi, de aliviar sua bagagem,
de seguir com menos peso, somente com o necessário. Crie sua própria fórmula,
ou receita de aliviar sua bagagem para poder seguir em paz, mais leve, sem
dores, sem rancores, tudo isso pode ficar para traz, porque se os carregar a
bagagem pode estar leve, mais o peso mental e emocional vai fazer com que ande
cada vez mais, isso se não te parar, e te impedir de chegar as suas metas, aos
seus objetivos. Então boa viagem!
Elaine
Marcelina
Rio,
11/2/2016
Cadernos Negros, volume 38: Contos afro-brasileiros/ Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. "A PROMESSA" de Elaine Marcelina, pag. 89
A PROMESSA
Ela engravidou aos
dezessete anos de idade. Por conta disso foi posta na rua por seu pai. Gerou
sua primeira cria embaixo das marquises na zona oeste do Rio de Janeiro. Deu à
luz a uma menina, e nem assim seu pai cedeu. Nos primeiros dias dessa criança,
sendo criada embaixo das marquises, sem higiene nem cuidados, seu umbigo melou.
Sua irmã mais velha
implora ao pai para recebê-la de volta em casa. E ele aparentemente cedeu Disse:
“manda essa dona vir pra casa”, e ela vai toda contente, agradece à irmã e ao
pai... mas neste ínterim de euforia, ele diz “você pode ficar, mais está vindo
uma dona aí pra pegar essa criança”.
Ela deu meia volta, e
fugiu com sua menina nos braços, chorando sem saber o que fazer.Pegou o trem e
foi procurar uma casa de “família” para trabalhar.Mas uma casa que aceitasse
sua filha junto, e foi quando encontrou Dona
Catarina.
Ela a aceitou e foi
ajudar a cuidar da menina... Levaram ao médico, e é aí que ela chega ao
hospital com a filha nos braços, e o médico diz: “temos muito pouco a fazer”.
Então ela fez uma
promessa a São Sebastião, que se sua filha sobrevivesse a levaria aos pés do
santo, todos os anos, só com o short vermelho, uma fita vermelha, sem camiseta
e a vela na mão. Sua filha sobreviveu. Ela pagou a promessa. Durante sete anos
levou a menina aos pés do santo, e como se não bastasse seguir a procissão,
tinha ainda que beijar a fita todos os anos. E foi assim que essa mãe preta
embalou sua dor e sobreviveu com sua cria na casa de outra família.
É assim que muitas de
nós sobrevivemos até os dias atuais. Vencendo as barreiras, as dores, engolindo
as lágrimas, fazendo promessas e, cumprindo-as, seguimos adiante.
Hoje, quando ela passa
pela marquise com a filha, já adulta, passa um filme dos tempos em que ali era
a sua casa, o local onde gerou sua menina, a primeira. Corre no canto dos olhos
uma lágrima, a filha seca e diz: “mãe, já passou”. Ela sorri, olha para filha e
diz: “o tempo passou, minha pequena Flor de Ébano, mas as marcas, essas ficaram
na lembrança. Sempre que eu passar por aqui vou lembrar”.
E assim as duas
seguiram, deixando para trás a marquise que um dia fora seu lar. E ela diz
agora para a filha: se seu avô fosse vivo, ele iria se orgulhar de nós tenho
certeza. Ele fez aquilo de me deixar na rua, porque eu era muito nova. Naquele
tempo tudo era muito rígido na moral das famílias.
“Flor de Ébano, quero que você seja muito feliz. Eu lhe conto essas coisas para que
você saiba da sua história, não para fazer você sofrer.”
“Mãe, eu amo a senhora, e eu nem lembro essa época. Eu era somente
um bebê, e graças à senhora estou aqui, forte, para ouvir essa história e
seguir em frente. Todo mundo tem histórias, mãe, umas tristes, outras alegres,
mas todos temos histórias.”
E do fim da rua podem
avistar mãe filha, seguindo abraçadas, carregadas de suas histórias,
alimentadas por sua fé e indo, rumo a um novo caminho, mas ali unidas, tal qual
no período da marquise, quando o calor de uma servia para aquecer a outra.
Sendo que agora a mãe é acalentada pela Flor
de Ébano. Outrora era a mãe quem a acalentava. Essas duas mulheres terão
até a eternidade para se unirem, seus laços nasceram embaixo da marquise, mas
hoje a marquise é coisa do passado, e o amor de mãe e filha é o que as une
nesta vida.
Elaine Marcelina
Da Série Mulheres Incríveis: "FILHAS DE ASÉ!"
FILHAS DE ASÉ!
Somos do dendê
Somos do mel
Somos das águas
Somos da pedra
Somos da terra
Somos das folhas
Somos dos ventos
Somos do sol
Somos da lua
Somos da árvore
Somos do ferro
Somos do arco Iris
Somos de lá, nascidas aqui
Somos filhas de asé!
Elaine Marcelina
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Release Livro Mulheres Incríveis
Release:
Nesta
terceira edição de Mulheres incríveis, ampliada e revisada, Elaine Marcelina,
historiadora e escritora, registra o seu processo de andanças e de escuta,
reunindo vozes e vivências de mulheres negras brasileiras. Ao longo dessa caminhada,
a autora conta e se encanta com as várias narrativas recolhidas, apresentadas
de forma tão visceral que conduzem o(a) leitor(a) ao universo da mulher negra
na sociedade, em sua forma própria de conduzir a vida e de lançar seu olhar
para o mundo.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Do Livro Mulheres Incríveis: Dona Thereza
Dona
Thereza
Nasci
no Estado do Rio de Janeiro, em Paraty, mas eu pensava que era Paty do Alferes.
Vim de lá com 5 anos, com meu pai e meus irmãos. Minha mãe ficou para cuidar da
outra irmã, que ia ganhar neném. Cheguei de Maria fumaça na Leopoldina. Quando
desci do trem, levei um susto com o apito do trem. Fiquei doente meses e minha
irmã Idalina me levava numa portuguesa chamada Conceição. Ela me rezava e me
enrolava nas folhas de bananeira... meu corpo encheu de bolhas d’água. Naquele
tempo, diziam que era ventre virado, por causa do susto. Mandaram carta para
minha mãe. Quando minha mãe chegou, eu estava quase boa e minha irmã já tinha
ganhado um menino. Nos adaptamos
ao lugar, ficava em Bangu, na serra de Bangu, perto do Pico da Pedra Branca. Meu pai, empregado do seu
Manoel Januário, dono da roça. Vivíamos
juntos, nos alimentávamos juntos, morávamos na casa de sapê e ele na casa
grande. Saíamos todos juntos para roça e cada um, com sua ferramenta, para
roçar e capinar. Descíamos para almoçar e descansávamos um pouco. Retornávamos
para a roça. Lá ficávamos até as cinco horas, sempre cantando pelo caminho. Poucos
estudavam, porque não tinha tempo e não tinha quase professor naquela época. O
trabalho era de segunda a sábado. No
sábado, era até o meio-dia. Depois da janta, dançávamos e cantarolávamos. Quem
cantava muito era minha irmã junto com eles. Meu primo tocava sanfona. Música: “A
minha caminha verde já chegou de Portugal, vamos todos minha gente, festejar o
carnaval...”. Depois, vinha a embolada, quando cada um dizia um desafio. Um
cálice de pinga de vez em quando pra quem bebia. Eu corria léguas. Nessa época,
eu tinha quase 6 anos. Minha mãe ganhou minha irmã Clarice, num parto
difícil. Tinha a parteira que pediu que chamassem o médico. Seu Januário saiu
com dois cavalos: um para ele e outro para o médico. O médico fez o parto, a
minha mãe gritou. Esse grito não saiu da minha cabeça. A menina estava
atravessada, nasceu e viveu normal até sete meses. Com sete meses, ela caiu da tarimba.
Ficou desacordada. Tarimba era uma
espécie de cama, feita de folha de
bananeira e forrada com lençol de saco, o ABC (pano da Fábrica Bangu). Um certo dia, minha mãe foi cuidar dos
porcos e pediu para eu olhar a menina, que estava dormindo. Eu continuei na mesa
rabiscando um papel, pois desde essa época queria aprender a ler. Meu sobrinho
apanhava para poder aprender. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
Do Livro Mulheres Incríveis: Maria do Carmo
Maria
do Carmo (in memoriam)
Meu
nome é Maria do Carmo Vicente de Paula, eu tenho 98 anos. Faço aniversário dia
dez de agosto. Nasci na Cachoeira do Rio Grande, fica Perto de Santa Maria
Madalena, não
lembro onde meus pais nasceram não. Na minha infância, eu trabalhava na roça,
plantava milho, plantava feijão, plantava arroz, plantava tudo e colhia tudo também.
Eu gostava de trabalhar. Eu trabalhei até 10 anos. Minha mãe ficou assim, a
gente era muito arteiro, e ela ficava um
bocado aborrecida. Batia na gente e a gente chorava. Daí a pouco, a gente conversava com ela e ela conversava com a gente e também não podia ficar de mal com
minha mãe, não podia de jeito nenhum
E ela dizia: “Umas crianças levadas, mas eu tenho consideração com minhas filhas, porque elas são trabalhadeiras,
são amorosas”. Fui uma vez, numa escola pertinho de casa, mas eu dormia, porque eu
trabalhava muito e dormia. A professora mandava eu fazer os trabalhos e eu
cochilava, eu não fazia nada, só dormia. Ela foi lá em casa e falou com mamãe:
“Dona Olímpia, assim suas filhas não vão aprender nada. Elas dormem só. Não
fazem nada, não fazem trabalho nenhum”. Aí, mamãe me tirou da escola. A
escola
era pertinho de casa. Eu não soube aproveitar, não. Se
eu soubesse aproveitar, eu ficava na escola e deixava a roça. Mas eu não queria
deixar o milho morrer no mato. Feijão, arroz, tudo plantado, aí ficava ruim pra
eu deixar. Aí, o patrão da gente lá de casa disse assim: “A Olímpia tem uma
filha que trabalha, faz todo serviço. Ela só faz a roça da Olímpia toda, é
muito trabalhadeira”. Aí, eu gostava mais de trabalhar. Quando eu fiz 10 anos, fiquei
em casa mesmo com mamãe. Eu vim pro Rio de Janeiro já estava com 20 anos. Eu
vim trabalhar na casa de patroa. Tinha
uma agência de escolher empregada, aí eu fui pra essa agência. E lá, a moça
falou: “Eu vou ficar com essa crioulinha aqui que é muito engraçadinha. Você
vai ficar comigo, você quer ficar comigo?”. Aí, fui pra casa dela, trabalhar
pra ela. Eu morava lá na casa, ela me tratava bem e me pagava. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
Do Livro Mulheres Incríveis: Edineia Gomes
Edineia
Marcelino Gomes
Meu
nome é Edneia Marcelino Gomes. Nasci no dia dezoito de julho de 1948. Tenho 65 anos.
Eu nasci na cidade do Rio de Janeiro. Minha mãe era do Espírito Santo e meu pai
de Minas. Meus
avôs, por parte de mãe, nasceram no Espírito Santo e da parte do meu pai, em Minas. Minha vó de
parte de mãe eu conheci. Da parte do
meu pai, também eu conheci as duas vozinhas. Tanto a
vovó dele, como a minha vó, que era mãe
da mãe do meu pai. Tive contato, mas ela era bem velhinha. Lembro de uma época
que o avião passou muito baixo na minha casa, ela pensou que estava acabando o
mundo, ela saiu correndo, passou mal, evacuou toda, ela era bem velhinha. Minha
infância foi de criança que brincava como as outras crianças, mas eu trabalhei
na minha infância. Com 6 anos, minha mãe tinha que trabalhar e eu ficava em
casa tomando conta das
minhas irmãs, tudo pequena. Eu que
ficava. Meus irmãos já eram tudo grande, olhavam, mas minha mãe trancava as
portas, pregava as janelas pra gente não ir pra rua, porque a gente morava dentro
de uma comunidade, que não pode mais falar favela, agora é comunidade. Minha casa era de pau a pique. Minha casa
era assim. Não lembro quem fez. Eu estudei no Colégio das Freiras, na Rua
Marize Barros, na Tijuca, número
612. Porque eu tomava conta das minhas irmãs,
era pequena e meu irmão, como era muito levado dentro da comunidade, minha mãe botou no colégio interno, na Tijuca. Aí,
quando ele veio, ele contava que era bom, aí pedi pra minha mãe me botar
também. Aí, minha mãe me botou no colégio de freira, por uma coisa que meu pai
trabalhava, que era por uma empresa, acho que era Multiplique, na Avenida Presidente Vargas, onde
antigamente tinha o IPERJ. A minha
mãe foi lá, conversou com a assistente social. Aí, tinha esse colégio das freiras e ela me botou por lá. Fui pro colégio interno por isso. Pedi pra minha mãe me botar pra eu parar de tomar conta de
criança. Aí, eu fui pro colégio interno.
Fiquei lá até os 14 anos, porque lá no colégio das freiras só tinha até a quarta série. Quando eu fui pra quinta, que era ginásio, eu tive que sair. Aí, eu vim
embora. Foi em meados dos anos 1960,
61, 62.
[...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
Do livro Mulheres Incríveis: Elidia de Paula Lima
Elídia
de Paula Lima
Meu
nome é Elídia de Paula Lima, tenho 52 anos. Meu filho falou pra mim que ia
acontecer o curso de extensão Gênero e Etnia História das Mulheres Negras da
Escravidão à Contemporaneidade, ele me deu a maior força. Ele falou: “Mãe, vai.
Tudo que você quer. Você precisa interagir com pessoas que tenham bagagem nesse
assunto”.
Aí, quando eu cheguei no curso, quando
eu olhei Elaine, eu falei: “Jesus, isso é tudo o que eu quero pra minha vida”. O que eu esperava era
abrir meu horizonte, porque eu
estava assim meio travada em termos de como ministrar uma aula. E eu fui pegando as coisas que você passava ali e fui absorvendo pra mim, por que é o que eu
quero. Eu queria fazer Serviço
Social. Eu fazendo História, vou ter contato com pessoas e é uma coisa que eu sempre gostei, de ensinar. Agora aprendendo, né?!... Olha, eu fiquei tão assim,
deslumbrada, que cheguei em casa contando
o filme, contando tudo que aconteceu, a professora, a roupa da professora, tudo, entendeu, igual criança. Meu filho ficou tão feliz... Falou: “Valeu a
pena, né, mãe?!”. Tá valendo.
Pra mim, foi como uma homenagem que eu
sempre quis fazer e não pude. A gente vê assim, mulheres na mídia, e eu falei: “Meu Deus, como que um dia alguém vai saber
da história da minha mãe, uma mulher guerreira, que criou esses filhos todos, lutou
muito mesmo pra chegar até aqui, com essa idade, 98 anos?” Então, “Meu
Deus”, eu falei, “é tudo”. Liguei pro meu sobrinho,
falava pra um, falava pra outro, fiquei
igual uma criança. Minha mãe ficou muito feliz, ela falou: “Minha filha, mas eu nunca estudei.” “Mamãe, mas você é importante,
você tem uma história de vida, que não é na sala de aula que você vai ter como contar.
Não é a história dos outros, não. É a história da tua vida. Você nunca foi a
uma sala de aula, mas você colocou todas nós na escola. Hoje, o que nós sabemos
é porque você nos introduziu na sociedade através do ensino. Você não aprendeu,
mas ensinou o caminho.” A mulher negra tem uma importância tremenda na sociedade.
Há muitos, nós achávamos que não tínhamos valor, Porque porque incutiram isso em nós. Nós não tínhamos valor
nenhum. Quando criança, as crianças
falavam: “Quando crescer quero ser professora.” Eu dizia assim: “Eu quero ser
doméstica”, porque era esse o horizonte que eu tinha. Hoje, quando eu vejo uma
mulher negra lá no Planalto, ou uma repórter, ou uma professora fazendo mestrado,
doutorado, olha, eu me realizo. Mas eu não quero me realizar só nos outros,
porque eu também tenho potencial pra chegar lá. Então, é muito importante,
porque faz a gente saber que a gente
também tem condições de chegar onde a outra chegou. [...]
Leia essa e outras histórias no livro
Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
Do livro Mulheres Incríveis: Clelia da Paixão
Clélia
da Paixão (in memoriam)
Meu
nome é Clélia da Paixão, eu tenho 66 anos e nasci em Salvador, Bahia. Minha mãe
nasceu em Nazaré das Farinhas e meu pai eu não lembro. Meus avós eu também não
lembro. Eu só me lembro da avó materna, que era Rita Maria da Conceição, e o nome
dos outros avós eu não lembro. Essa minha avó foi escrava. Do meu avô por parte
de pai, minha mãe disse... Ele fazia transporte de coisas da África para o
Brasil, mas eu não lembro o nome dele. Eu
vim para o Rio de Janeiro com uns 7 anos, 6 pra 7 anos. Nós viemos para o Rio, porque a vida não era boa lá, né?! Muita dificuldade para emprego. Então, meu
pai achou que, aqui no Rio, seria
melhor e tinha pessoas do nosso relacionamento que tinham vindo pra cá. Então, ele acompanhou essas pessoas.
Na
Bahia, minha infância era ótima. Casa boa, casa com quintal à vontade. Tinha
muita liberdade. Aqui no Rio, morei pouco tempo em Duque de Caxias. Depois, meu pai morreu um ano depois que nós viemos pra cá. Ele
morreu em 1946. Daí, nós viemos pra
cidade porque minha mãe precisava trabalhar e foi trabalhar em casa de família, porque era dona de casa, não tinha
nenhuma profissão formal e essa pessoa
com quem ela foi trabalhar internou a gente numa escola aqui no Rio. Não deu
certo. Aí, me mandou pra Campos do Jordão porque meu pai havia morrido com
tuberculose pulmonar. Então, nós fomos pra um preventório que era pra filho de
tuberculosos e a outra minha irmã mais velha foi para Petrópolis, pra um lugar
semelhante. Eu lembro que, quando eu
cheguei ao Rio, ainda tinham muitas casas. Tinham muitas casas na Presidente
Vargas, eram casas, casas baixas. Tinham muitos armazéns onde faziam compras,
tipo, hoje em dia, a Casa Pedro. Comprava tudo a varejo, embrulhava, fazia um
pacote, a gente levava pra casa e o sistema era esse. O transporte era bonde, bonde pra Penha, pra Jacarepaguá, bonde para
Zona Sul. O transporte ainda era esse e tinha ônibus
também, que transportava o pessoal e, mais
tarde, a lotação. O pessoal chamava de lotação, que tinha uma possibilidade
pequena de transporte de passageiro. Não transportava ninguém em pé. [...]
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Mulheres Incríveis 3ª ed. – Editora Nandyala, autora: Elaine Marcelina
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