sexta-feira, 15 de março de 2019

Cheiro de Pau santo, por: Elaine Marcelina


Cheiro de pau-santo
O cheiro de pau-santo marcava o lugar de trabalho.
Marcava uma crença.
Marcava a força da mulher que foi arrancada de nós
Sim, arrancada de nós, mulheres pretas, favelados...
O cheiro do pau-santo vai sumir da sala 903...
Mas fica na memória de quem a rodeava.
Como seguir sem Marielle?
Como rimar a falta com o amor que ela emitia?
Como abarcar em palavras aquele mar de mulher?
Tento, não desisto, resisto, e (re)-existo diante da arruda que ela dava aos seus
E (re)-existo no cheiro do pau-santo!
Isso! O cheiro da força que ela emitia ao falar, ao andar, ao enfrentar o mundo!
Há aquele sorriso largo, tão cheio de força! E tem que existir em nós.
Como? Começa do começo, levanta, sacode a poeira, passa a mão suavemente nas lágrimas que teimam em cair, passa na casa de erva e compra um pau-santo...
Isso, siga os passos da energia dela, para bloquear a dor, a dor da falta, da saída brusca de cena, do dia em que a noite não acabou...
A noite de 14/03 não acabou. E se pudéssemos, nunca existiria...
Mas com tudo o que queremos esquecer, ela existiu. Ela existiu e pode ser ressignificada por nós, mulheres pretas, que sabemos seguir, mesmo após as dores do mundo nos mutilarem...
Mesmo quando tentam nos paralisar, nos subalternizar...
O cheiro do pau-santo
E o da arruda podem ser nosso amuleto a partir de hoje.
Esse cheiro vai deixar, de fato:
Marielle, presente!
Elaine Marcelina
Rio de Janeiro, 23/3/2018

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