quinta-feira, 19 de março de 2020

Panela Literária


PANELA LITERÁRIA
Minha panela é de papel, pode ser de vários formatos, pequena, grande, larga...
Mexo minha panela com a colher de pau, mas minha colher é a caneta ou o lápis, porém o lápis bem apontado é melhor. E quando uso a colher lápis, prefiro a panela em branco, sem linhas, pois aí ao mexer, vai fluindo, fluindo, sem que nem porque, começo a por na panela minhas idéias, e vou refogando, refogando, quando acho que a idéia “dorou, apurou”, ou seja, brotou, eu vou mexendo, vai nascendo, as letras vão nascendo,  vão nascendo as frases, a idéia vai cozinhando, tipo a vapor, essa é a melhor, depois de refogar bem, ponho sal na medida certa, ponho água, baixo o fogo e cálculo o tempo de cozimento, é neste tempo que surgem mais idéias e tenho que aproveitar a fervura de idéias, o borbulhar, e assim vai borbulhando e borbulhando, vou escrevendo antes da panela secar, antes de ficar pronto, provo, ou seja, leio e digo ainda esta duro, ponho um pouco mais de água e abaixo o fogo, neste processo vou limpando o texto,porque embora ele esteja quase pronto, assim como o arroz, tenho que tomar cuidado porque ele pode ficar soltinho, ou papa, salgado ou insosso, enfim, o cuidado com o arroz pra uma cozinheira é o mesmo que o cuidado com um texto para o escritor, o texto tem que ser preparado, lavado, por pra dourar, refogar, refogar (rever), por o sal, no ponto, o toque essencial, colocar água na medida para ficar solto e não papa, entendeu? Os rituais são parecidos. E na panela do escritor o texto tem que fluir, tem o “ponto” sabe? E eu não sei dizer qual é, só sei que vou deixando o pensamento fluir, a idéia sair da cabeça e ir para o papel, uns chamam de inspiração, mas ainda que escreva diante da inspiração ou movida por ela, ainda assim tem de fazer tal qual a cozinheira ao fazer o arroz. Sejam bem-vindos a minha panela, minha panela literária. Nesta panela, os grãos são as letras, e quando se unem formam um alimento comum, mas gostoso, e unindo estas “letras grãos”, durante o cozimento viram “palavras alimento”, estas “palavras alimento” unidas formam frases, essas “frases gostosas” unidas, após uma pitada de “sal” e a medida certa de água, “água idéia”,  nasce ali um belo conto ou um “conto alimento”, uma boa crônica, ou uma prosa, enfim, nasce ali um prato ou um texto, ou melhor, um “prato texto”, dependendo da habilidade do cozinheiro ou do escritor, de certo nascerá uma delicia pra comer ou pra ler. Fica ao gosto e a pedida do freguês. Então mãos a obra!

Elaine Marcelina

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